O EVANGELHO (Ademir Dantas)

20/04/2011 11:54

 

O Evangelho      

 

“Porque não me envergonho do Evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como esta escrito: Mas o justo viverá da fé”

                                                                                                 Romanos 1:16, 17

 

                  

Paulo, o Apostolo, diz, não se envergonhar-se do evangelho. Ele, não se constrange em falar do Evangelho. Não sente vergonha em declará-lo, a qualquer que fosse. No entanto, Paulo não poderia se envergonhar do Evangelho, pois, ele fora separado, para este propósito. Fora separado para o Evangelho, Rom.1:1. Paulo recebera de Deus, “Graça e o apostolado para chamar dentre todas as nações, um povo para a obediência, que vem pela fé”. Rom.1:5. E a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus.

 

 O chamado de Paulo ao Evangelho, fazia com que Ele, não se sentisse constrangido, envergonhado diante do Evangelho, e nem diante das pessoas, fossem elas quem fosse.  O Evangelho estava incorporado, ao seu modo de vida, intenção, propósito, missão e fé. Era parte integrante do seu ser, e isto, explica o seu notável sucesso em anunciá-lo, através da pregação e do ensino.

 

A consciência, que ele tinha do Evangelho- do potencial ilimitado. Da proposta inigualável de transformação mental, espiritual e social permanente. Do poder de restabelecer o caminho, que traz o homem de volta, ao Seu Criador- empolgava Paulo, a dizer com todas as letras “Eu não me envergonho do Evangelho”. Porque, Paulo sabia o que era o Evangelho. O que o Evangelho possibilitava, aquele que cresse, e a proposta do Evangelho, para a humanidade.

 

 

O que é o Evangelho? Paulo o sabia. E nós? Sabemos realmente, o que é o Evangelho, o que ele proporciona aquele que crê, e qual a sua importância, para toda a humanidade? Creio que a resposta a esta pergunta, é tão importante para os cristãos de hoje, como também fora, para os nossos irmãos do passado. Pois tanto no passado, como no presente, cabia aos nossos irmãos e a nos hoje, agarrar-se ao verdadeiro Evangelho.

 

 Paulo está dizendo: “Eu não me envergonho do Evangelho, porque eu sei o que ele é, e o que significa para o homem” (parafraseando).

 

Se fizéssemos uma pesquisa, sobre o que seria o Evangelho, teríamos diversas respostas, pois para alguns, o Evangelho é um monte de palavras desconexas, para outros, são histórias interessantes, e a outros, uma literatura qualquer. Há quem ache o Evangelho, fanatismo e peculiar a grupos extremistas. “Coisa de louco dirão outros”, e o Apóstolo Paulo, dirá que: a palavra da cruz é loucura, [para os que perecem] I Coríntios 1:1. E se for loucura, é esta loucura, que Deus utiliza para salvar-nos: a loucura da pregação I Coríntios 1:21.

Alguns, não entendem, outros não querem entender. Para alguns o Evangelho, é simples demais. Para outros, complicado demais. Para muitos, o Evangelho quer dizer, privação dos prazeres: deixar de fazer isto ou aquilo. Um monte de regras, impossíveis de seguir. Para outros, são valores éticos, muito altos para alcançar, pôr isso não vale à pena tentar.

 

 Existem, aqueles também que, enxergam o Evangelho, como uma fonte de renda, e até o usam, como meio de obter lucro.  O que dizer de pregadores e cantores, que cobram cachês altíssimos, para pregar e cantar? Isto é Evangelho? Já outros, acham que o Evangelho é um refugio dos problemas não resolvidos. Outros utilizam o evangelho, como máscara, ou usam como uma fachada. Será isto o Evangelho? E se for, será que dá para se orgulhar dele? O que é o Evangelho para nós? Esta pergunta é o ponto central do assunto. Definir o que é o verdadeiro Evangelho é primordial, para a vida cristã, pois como veremos, as pessoas no passado mergulharam nas heresias, porque se esqueceram do verdadeiro Evangelho.

 

O Evangelho nos primórdios.

 

 A Igreja Cristã fora fundada, numa Era muito propicia: o mundo antigo falava a mesma língua, o grego koiné. Isto sem dúvida foi, um elemento importante, para que a mensagem do Evangelho fosse, plenamente difundida, no mundo romano. E pôr ser, o mundo romano- o mundo conquistado e dominado pôr Roma- uma unificação de nações, em que havia liberdade de acesso, de um lugar ao outro. Facilitado, pela enorme quantidade de ótimas estradas, construídas pêlos romanos, contribuiu de forma significativa, para a ampla divulgação, do Evangelho. De modo que, um mundo unificado, uma mesma língua, facilidade de locomoção de um lugar para o outro. Um mundo globalizado. Porém, mergulhado em densas trevas espirituais.  Esta época fora denominada, a plenitude dos tempos, Gálatas 4:4. O tempo em que Cristo encarnado, se revelou ao mundo e a Igreja posteriormente estabelecida, para continuar a obra da evangelização.

 

 A igreja de Cristo fora fincada, em um terreno, e em um tempo, onde os povos eram pagãos, idólatras, cheios de lendas e mitos. A cultura predominante era, a grega. Embora os romanos dominassem politicamente, a cultura e a língua grega, dominavam o mundo romano, culturalmente falando. Os gregos, eram amantes da arte, filosofia, do corpo, da argumentação. No entanto, eram politeístas, rendendo adoração, aos diversos deuses do Olimpo, (lugar onde, segundo a crença, habitavam os deuses). Os romanos, pôr sua vez, também eram pagãos e profundamente idólatras. Segundo os romanos, não prestar culto, a qualquer um, dentre a infinidade de deuses que eles tinham, atrairia má sorte, e a ira dos deuses sobre eles.

 

De modo que, quando a igreja partiu para evangelização, pregando o Evangelho, muitos se converteram genuinamente e vieram para a Igreja.  Porém, um grande número de pessoas, veio para a Igreja, trazendo toda a bagagem herdada no paganismo, e no misticismo operante naquele tempo.  Nem sempre eram conversões, eram migrações, de uma religião para outra, e para muitos o Cristianismo era só mais uma religião. Isto acarretava a Igreja, muitos problemas.   Lutava-se, com todas as forças para combater as heresias. Grupos heréticos surgiam, para confrontar o Evangelho, e alguns destes, estavam infiltrados dentro da Igreja. A Igreja lutava, porque não queria perder a essência do Evangelho. A Igreja, não poderia esquecer, o que era, e deve ser hoje, para nós o verdadeiro Evangelho.

 

 A Igreja, teve de lutar contra aqueles, que queriam adicionar ao Evangelho. E a mensagem do Evangelho, não pode ter complemento. Não existe nova revelação. Existe iluminação. Tudo que era para ser revelado, foi concluído. Esta selado.

As heresias, sempre surgem como sendo novas revelações, e é nosso dever, cristãos de hoje, como fora no passado, combate-las, pois a mensagem do Evangelho, não se compactua com falsos ensinamentos.

 

 A Igreja teve que lutar, contra os que queriam subtrair, omitir e reduzir a mensagem do Evangelho. E a mensagem do Evangelho, não pode ser subtraída. Não se mexe. A mensagem foi selada. Não há parcialidade, não há meia verdade, pois meia verdade, e também, meia mentira. Portanto, a longa historia da Igreja, tem sido marcada pela luta constante, contra aqueles que tentam descaracterizar, a mensagem do Evangelho. 

 

O inimigo, usa este meio para fazer com que as pessoas, vivam aquém, do que realmente, o Evangelho propõe que vivamos. Induz, a que vivam apenas uma meia verdade, e não abram mão de práticas, comportamentos que precisam ser renunciadas e até mesmo rejeitadas. E vivam, enganadas e longe da vontade do Senhor.

 

A Igreja sempre trabalhou, arduamente, para combater as heresias, e manter viva a consciência do que é, o verdadeiro Evangelho. 

A igreja criou, o credo (regulamentava as doutrinas primordiais do Cristianismo), e discipulava pelo período, não menos de três anos, os que vinham para a igreja. Os pais da Igreja combatiam, as heresias e defendiam bravamente, o Evangelho, diante do Estado, que declarara que o Cristianismo era uma religião ilegal no Estado Romano.

 

A Igreja e o Evangelho lutavam para sobreviver, num mundo cheio de crendices, idolatrias e perseguições.

 

Quando o imperador Constantino, declarou, que o Cristianismo seria, a religião oficial do Império Romano, e uniu Igreja e Estado, acabaram-se as perseguições. Porém, o Evangelho sofreu um golpe violento, pois muitas heresias entraram na Igreja. Cada um interpretava o Evangelho, com base, nas suas convicções religiosas pagãs, criando, então, muitas seitas, como: agnosticismo, Monarquismo, Apolinarianismo. “E muitos outros ‘‘ismos”. E na Igreja, foram sendo adicionadas, várias heresias, e muitas heresias, permanecem até hoje, nas igrejas não-reformadas.

 

Foram-se adicionando rituais, tirou-se o foco de Cristo, colocando nos santos, e em Maria. A Igreja tornou-se corrupta, seus ministros avarentos e violentos. Tornaram-se detentores da “verdade”, negando ao povo, o direito as Escrituras. Até que se perdeu a essência e o valor do Evangelho. Paulo sabia, o que era o Evangelho, porém no tempo posterior a Paulo, as pessoas esqueceram-se o que era o verdadeiro Evangelho. As pessoas viviam um Evangelho que dava vergonha.

 

O suposto evangelho de hoje

 

E hoje, será que também não temos visto, e ouvido pregadores do Evangelho, pregando um Evangelho de dar vergonha? Atualmente pessoas pregam prosperidade como se isto fosse o Evangelho: Você precisa ter muito mais, em bens. Mais do que você já tem. Porque assim o povo vai olhar para você e desejar servir a Deus. Será? As pessoas podem vir para Igreja, não porque deseja servir a Deus, mais porque desejam, ter o que você tem. Eu creio que Deus não quer, que venhamos a Ele, porque estamos endividados, com o nome no protesto, ou porque faltam-nos bens. Mas creio que Deus, alegra-se com quem chega a Ele, reconhecendo que é pecador, necessitado da graça do Senhor. Será que este Evangelho do ter, e em detrimento do ser, é verdadeiro?

 

Ë claro, que as Escrituras falam de prosperidade, mas esta é a ênfase do Evangelho? Se Deus existisse, só para nos dar casas, carros, emprego e muito dinheiro. Esse Deus seria muito pequeno. Seria um Deus, sem ideais nem propósito para com a humanidade. Deus é mais do que tudo isto. O Evangelho é mais do que prosperidade. Os que pregam prosperidade, arrumam problemas, para si mesmos. Criam, não crentes- consumidores de bênçãos. Pessoas que só querem receber (mimadas), e o dia que você orar e elas, não receberem nada, Ela vai para outra Igreja que tem uma melhor proposta para ela (lá tem a campanha de não-sei-o-que), e de lá, para a outra, e vai pulando de galho em galho. Porque este tipo de Evangelho, não se pauta em bases seguras. Não produz crentes firmes. Produz o tipo de crente, que entra na Igreja, com uma idéia fixa: Em que esta Igreja, vai me beneficiar? Quando a pergunta deveria ser: Em que eu posso contribuir, para esta Igreja?

 

 Hoje, o evangelho que ouvimos alguns, proclamarem está ligado às finanças. As pessoas descobriram um jeito, de aplicar seu dinheiro, com promessa de alta rentabilidade. Entendem que, quando dão dinheiro, receberão cem vezes mais. Vejam só, que negocio lucrativo! De modo que, faz-se uma permuta com Deus.

E com Deus não podemos fazer permuta. Ou contribuímos, porque amamos a Deus e a sua obra. Ou, não contribuímos.

 

A contribuição financeira, nunca foi dissociada, de uma vida coerente com o Evangelho. Contribuir financeiramente, pôr si só, não resolve. Só aquele, que pauta a sua vida, nos princípios éticos, morais e espirituais do verdadeiro Evangelho, está apto a receber o favor de Deus, e todas os benefícios do Evangelho [que não são, necessariamente, valores materiais], mas que dão sentido a nossa existência. Diante disto, a contribuição financeira, torna-se apenas um ato de gratidão, de um coração que ama o Evangelho.

 

Tem-se visto hoje, também, um evangelho que tem um discurso triunfalista, onde o crente não pode ficar doente, tem que ter dinheiro e não pode sofrer, porque se isto acontecer, há pecado ou a pessoa não tem fé. Ora, Deus não permite que o crente sofra, então devemos rasgar o livro de Jó, da Bíblia Sagrada, pois Deus permitiu que ele sofresse. E Jô, era fiel e integro, diante de Deus.

Deus também “corrige e açoita, aos seus filhos.” Hebreus12: 6. Será que isto não gera sofrimento? Seríamos hipócritas, se não admitíssemos isto. Mas infelizmente, alguns ignoram este fato.

 

 Parece, que vivemos na era dos super crentes, nos achamos superiores, aos nossos irmãos do passado. Eles sofreram. Nós? De jeito nenhum! Não podemos sofrer! Se recebêssemos uma carta, de um missionário, contando que no campo missionário, fora açoitado, espancado até quase a morte, foi preso algumas vezes, viajando de barco, este naufragou, conseguiu escapar, foi parar numa ilha, e lá foi mordido pôr uma serpente, e depois de tudo isto ainda foi preso, e aguarda o julgamento. Muitos diriam: Será que realmente tem chamado? Será que não partiu em missão pôr conta própria? E se dissermos que, todas estas coisas, aconteceram com o Apóstolo Paulo?  Então, será que este discurso triunfalista, é o Evangelho?

 

Alguns rituais têm sido acrescentados, ao Evangelho atualmente. Coisas esquisitas, têm surgido atualmente, como: pisar no sal, tocar em objetos, ou levar objetos para casa. Alguns podem alegar que são apenas simbologias. Porém, a Igreja Católica Romana, também alega que imagens são apenas, para lembrar os exemplos dados, pêlos considerados santos. Mas a Bíblia serve para o que? A Bíblia já não mostra-nos, a fé e a perseverança dos nossos irmãos do passado? Atrelar o Evangelho, a objetos é contradizer o Evangelho.

 

Não há nas Escrituras, menção a guardar, tocar em objeto algum. A fé, não precisa de muleta. Atrelar o Evangelho, a objetos é voltar, à mentalidade que fez com que as pessoas, venerassem os objetos (relíquias), e as imagens na Igreja Católica Romana. E mais ainda, é regredir nosso estado mental, à dos habitantes tribais, das regiões mais inóspitas, do planeta, onde nunca ouviram, falar de Cristo, mas desenvolvem a crença, num ser superior que eles não conhecem, e pôr isso, elegem elementos da natureza, representativos dessa divindade. Nós não precisamos disto. Não necessitamos de elementos representativos da nossa fé, e muito menos, do nosso Deus. Nós, O conhecemos, e mantemos com Ele, uma filiação. E isto faz toda diferença. Para se viver o Evangelho, não há necessidade, de objetos, e sim de fé.

 

 Ensinamentos deturpados, como pôr exemplo o uso da unção com óleo. Biblicamente a unção deve ser usada para: consagração ao ministério, para cura de enfermidades marcos 6.13, consagração de utensílios para a casa do Senhor. Há pessoas ungindo carros, móveis e materiais, coisas que serão usadas para uso próprio, e não para uso exclusivo da Casa do Senhor, de modo que, Biblicamente falando, é o uso inapropriado da unção com óleo.

 

Firmados no verdadeiro Evangelho

 

A verdade, é que a luta continua. Hoje mais do que nunca, precisamos, nos portar como verdadeiros guardiões do Evangelho Genuíno. É preciso tomar cuidado, para que o Evangelho, não venha ser descaracterizado e banalizado. O Evangelho, não aceita adições, e nem subtrações. Deve ser mantido, essencialmente puro. As “novas revelações” e modismos, no seio evangélico, podem nos afastar, do que é o verdadeiro Evangelho, e sucumbir à verdade, a uma pregação temporal, superficial e sem caráter. Temporal, porque prega, as coisas materiais que, não prevalecem com o teste do tempo, e os benefícios para o tempo presente. Superficial, porque não se aprofunda, e não traz mudanças. Sem caráter, porque se deixa influenciar, pelo sistema mundano

 

Portanto, é preciso refletir, nesta pergunta: “O que é o Evangelho para mim”. Responder esta questão, conforme o que as Escrituras, nos dizem, e essencial para não cairmos, no suposto evangelho de hoje.

 

A advertência do Apóstolo Paulo, aos Gálatas, ainda soa tão forte, que não podemos ignorar: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” Gálatas 1.6-9.

 

Paulo fala, do perigo de “outro evangelho”, De um “evangelho, que vá além” do que foi pregado. De pessoas, que “pervertem o Evangelho de Cristo”. Será que não temos visto isto hoje? Um evangelho, que não é bíblico, e que acrescenta rituais, pensamentos humanos e coisas para manipular as pessoas? E se o evangelho, que muitos seguem não é o evangelho verdadeiro, para onde estão caminhando estas pessoas?

 

Por isto, é de suma importância avaliar, o evangelho que sigo, pois daí resulta a vida ou a morte eterna. Todo evangelho, que renega Jesus. Deixa-o em segundo plano. Não é o verdadeiro Evangelho, e não resulta em vida eterna: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” João 3.36.

 

 

O Evangelho, puro e simples, fez e continua fazendo pelo homem, o que nenhum avanço intelectual, sociológico e tecnológico jamais, conseguiu fazer.

O Evangelho, como Paulo disse, continua sendo: “o poder de Deus”, para justificar e salvar a todo aquele, que nele crê. E para isto, a mensagem do Evangelho, não precisa de adições, nem de subtrações e muito menos de atualização.